Loja Mágica e Ilusão

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fu Manchú - Biografia

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Na infância, época em que floresceu a minha paixão pela artes mágicas, de vez em quando ouvia minha mãe falar sobre um extraordinário mágico chamado Fu-Manchú. Ela assistiu o show do mágico no Rio de Janeiro, Brasil, e ficou muito impressionada. Falou tantas vezes sobre o ilusionista que seu nome ficou gravado em minha memória. Infelizmente, não tive a felicidade de vê-lo atuar mas, tudo o que foi registrado a seu respeito me leva a crer que foi um dos maiores ilusionistas de todos os tempos.

Fu-Manchú era David Tobias Bamberg. Nascido em Derby, na Inglaterra em 19 de fevereiro 1904, aprendeu os primeiros números mágicos ainda criança, mantendo-se atento aos exercícios e performances do pai, o grande ilusionista Okito (Theodore Bamberg). Em 9 de outubro de 1909, David fez sua primeira apresentação numa reunião da Society of American Magicians (SAM), em Nova Iorque, EUA, tendo contado com a assistência do Presidente da entidade, o consagrado Harry Houdini.

Na juventude adotou o nome artístico Syko. Aprendeu com maestria as sombras chinesas e conseguia projetar sombras dos mais variados animais e objetos com as mãos. Percorreu muitos países levando o nome de sua famosa família de mágicos, iniciada com o holandês Elias Bamberg (1760-1833).

Com apenas 13 anos de idade, David trabalhou com o grande mentalista dinamarquês Julius Zancig. Nos anos 20, viajou com as companhias de P.T.Selbit (Percy Thomas Tibbles) e do Grande Raymond (Maurice François Saunders). Ao transferir residência para Buenos Aires, Argentina, resolveu transformar-se no "chinês" Fu-Manchú, estreando no Teatro San Martin em 1º de março de 1929. O artista contou com a ajuda financeira de Walter Gaulke, um executivo da indústria cinematográfica, que acreditou em seu talento. Fu-Manchú teve grande êxito na Argentina. Na Europa e na África conquistou ótimas críticas. Sua estada no México foi ainda mais brilhante, onde tornou-se uma personalidade nacional. Nos EUA, o artista teve que se apresentar como Fu-Chan, pois o nome Fu-Manchú era registrado pelo escritor Sax Rohmer.

Os espetáculos de Fu-Manchú eram maravilhosos. As ilusões eram primorosas e os luxuosos cenários tinham fino acabamento. Os shows tinham títulos atraentes como Os Feitiços de Fu-Manchú. O saudoso mestre Dai Vernon dizia que o show de Fu-Manchú foi o mais bonito que havia visto.

Um de seus números mais conhecidos era chamado Bazar de Magia, uma paródia sobre El Bazar Yankee, uma antiga loja de artigos mágicos em Buenos Aires. Durante o ato, Fu-Manchú demonstrava rapidamente vários efeitos para um cliente, mas este nunca podia comprá-los. Muitos colegas de outros países, em passagem por Buenos Aires, participaram do número como artistas convidados.

Comentam que era muito interessante um número sob luz negra, em que os ossos de esqueletos luminoso se separavam flutuando pelo ar, para depois tornarem e se juntar. A ilusão da Mulher Atômica também era muito impressionante. Uma assistenta desaparecia do interior de uma enorme lanterna chinesa, suspensa sobre a platéia e, após o disparo de uma pistola, reaparecia em outra lanterna suspensa no palco.

Na década de 40, Fu-Manchú roteirizou e atuou em seis filmes mexicanos. Em alguns aparece fazendo mágicas. Em fevereiro de 1947, já aclamado como um extraordinário ilusionista, Fu-Manchú estreou o espetáculo Crazimagicana, que o tornou ainda mais célebre. Crazimagicana teve quase 3000 apresentações em Buenos Aires.

O mágico era seu próprio agente e manteve uma grande equipe de artistas. Até mesmo as músicas eram criadas especialmente para os seus shows.

O magistral ilusionista se aposentou em 19 de março de 1966, data em que fez seu último espetáculo em Buenos Aires. Abriu uma loja especializada em artes mágicas e criou a Sociedade Argentina de Mágicos, que contava com um completo teatro, construído no porão da loja. Pela sociedade passaram famosos artistas e através dela Fu-Manchú orientou numerosos iniciantes. Mesmo aposentado, o mágico continuava a chamar a atenção do povo e da mídia. Foi tema de três especiais para televisão. Sua exitosa carreira mágica o tornou lendário.

Fu-Manchú nos deixou em 19 de agosto de 1974, aos 70 anos de idade, encerrando com brilhantismo a encantadora tradição mágica da família holandesa Bamberg, que durou por seis gerações.

Referências:
oo The Illustrated History of Magic - Milbourne e Maurine Christopher - Heinemann, 1996;
oo Fu Manchú - David Goodsell - M-U-M (Volume 90 - n. 1 - June 2000);
oo Greater Magic - Richard Kaufman e Alan Greenberg - 1994;
oo Bazar de Magia (Argentina) - http://www.bazardemagia.com

Fonte: Boletim de Artes Mágicas, Nº 16, 2º Ano - Agosto de 2000.
Autor: Mahatma

3 comentários:

  1. Excelente texto.

    É sempre muito valido conhecer a biografia desses grandes ilusionistas

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  2. Esse é um texto que foi escrito há alguns anos e estava meio perdido na net. Vale ressaltar que sou assim como o autor desse texto grande fã da biografia de Fu Manchu e recomendo à todos conhecer melhor o trabalho desse grande artista.

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  3. Prazer Robson... gostei deste seu texto e olha só: Eu participo de uma campanha aqui em minha cidade chamada DOE FELICIDADE e há 2 anos eu fui convocado a escrever um texto sobre a reação de uma criança quando vê um mágico... Então eu espelhei em mim, pois eu vi Fu Manchú. Tenho 62 PARA 63 ANOS e isso aconteceu quando seu circo veio em minha cidade no Brasil, em Cataguases, final dos anos sessenta ou início dos anos oitenta. Comento com alguns mágicos de minha geração e ninguém eu encontro que viu Fu Manchú. Este texto que fiz, vai virar livro... já em fase de edição.

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